quarta-feira, 12 de março de 2008

Páscoa 2008


Numa tarde quente de verão, o pai toma seu filho no colo e diz:
“- No domingo, vai ter festa na casa do vovô e da vovó.”
“- Festa?” Pergunta o menino. “Mas festa por quê?”
“- Seu avô e sua avó estão comemorando Bodas de Ouro, cinqüenta anos de casamento.”
Admirado o menino diz:
“- Cinqüenta anos!!! Isto é muito tempo! Como eles ainda se lembram?”
O pai ri e explica:
“- Para uma data não ser esquecida ela precisa ser rememorada. Os acontecimentos precisam voltar a nossa mente e é sempre bom agradecer a Deus por isto. Por Ele nos ter dado este presente.”

Eis a explicação, o ensino deste pai ao seu filho pequeno, sobre a festa importante que estava por acontecer naquela família. Quem já celebrou Bodas de Ouro bem sabe que esta comemoração não se faz de um dia para o outro. É preciso planejamento, preparo e trabalho. Muitas são as lembranças e ansiedade até o grande dia. E depois, dias e dias são necessários para recordar cada momento, cada voto e abraço recebido.

Pois para a família cristã a maior festa é a celebração do que Deus fez por nós em Cristo Jesus: a sua Ressurreição! A Páscoa! Então é oportuna a pergunta: como estamos nos preparando para esta grande festa? O que estamos ensinando às crianças? O que, afinal, lembramos?

Se observarmos bem os Evangelhos, percebemos que cerca de um terço de todos eles é dedicado ao relato da última semana da vida de Jesus. Este tempo é relatado com muitos detalhes, tamanha a sua importância para a comunidade cristã. Também o calendário cristão acompanha este destaque, prevendo um ciclo Pascal que vai desde a Quaresma (40 dias antes), seguido de 3 dias da Páscoa e estendendo-se por mais 50 dias após. Assim, a Páscoa é a festa mais importante a ser lembrada, celebrada e ensinada.

TUDO COMEÇOU COM O DOMINGO
Desde muito cedo, os primeiros cristãos marcaram o primeiro dia da semana – o domingo – como especial. Jesus ressuscitou no domingo. Por isto, cada domingo passou a ser uma pequena Páscoa. Mais tarde, sentiram a necessidade de marcar uma festa anual da Páscoa. A comunidade, então, inspirou-se nos festejos da Páscoa judaica. Jesus estava em Jerusalém para celebrar a Páscoa dos judeus quando tudo aconteceu. Porém, enquanto que para os judeus a Páscoa era a lembrança de que Deus libertara o seu povo da escravidão do Egito e lhe dera uma nova terra, uma nova vida, para os cristãos, Páscoa é a celebração da obra salvadora de Deus. Ele não só livra o seu povo da escravidão, mas lhe dá a possibilidade de se reconciliar com Ele, através do sangue derramado pelo seu Filho amado. Ele carregou sobre si a nossa desobediência, o nosso castigo. Ele nos justificou e venceu o maior dos nossos inimigos: a morte. Páscoa é passagem da morte para a vida. Eis o evento libertador e salvador! Deus mesmo estabelece uma nova relação com a humanidade. Não são as leis e as atitudes que salvam, mas é o amor e a misericórdia de Deus, levadas às últimas conseqüências por Cristo na cruz. Aceitar este amor é aceitar a graça salvadora de Deus e nos comprometer com o Seu Reino de paz, de justiça, de cuidado e de vida.

Por muito tempo, a Páscoa foi a única comemoração dos cristãos. Nela aconteciam os Batismos daqueles que eram preparados pela comunidade para receberem a marca, o selo da cruz de Cristo em suas testas, para viver da graça de Deus. O preparo para o Batismo e para a festa da Páscoa consistia em: meditação, ensinamento bíblico, jejum, orações diárias e em conjunto e abstinência de prazeres. Desta forma, as pessoas ansiavam pelo dia da Páscoa. Era algo realmente especial. E a alegria era tanta que, nos 50 dias posteriores, ainda havia júbilo e recordações.

E HOJE? QUAL A FESTA MAIS IMPORTANTE?
Após a quarta feira de cinzas é bom perguntar: o que mudou em nossa rotina, em nossos lares, em nosso viver em sociedade? Deixamos de fazer algumas coisas porque estamos na Quaresma? Se não lembramos a cor dos paramentos que estão no altar em nossas igrejas, provavelmente é porque ainda não fomos ao culto, neste tempo.

Quando algo é importante na nossa vida, nossas atitudes o demonstram. Nós bem sabemos que nossa sociedade nos propõe adorar outros deuses. O egoísmo, o prazer, o consumo e o lucro são os mandamentos dos deuses atuais. Se não paramos para meditar, ler a Bíblia, orar, orar em conjunto, nos abstendo daquilo que não faz bem a nossa saúde, se não respeitamos este tempo modificando nossa rotina, quando vamos deixar que Deus nos pegue no colo e nos lembre da aliança de amor e de misericórdia que Ele fez conosco há tanto tempo atrás?

Somos especialistas em preparar bem nossas festas familiares, porém como critãos precisamos recuperar a preparação para a maior festa: a Páscoa. Chocolates e presentes no domingo, não mudam a nossa vida. Dançar e se divertir, podemos fazer no resto do ano. Somente o amor e a graça que Deus nos deu, ressuscitando Jesus, é que nos salva e nos liberta. Há muitas coisas que nos amarram e impedem a vida que Deus nos quer dar. É preciso reconhecê-las, é preciso cair em si. A Páscoa é o ponto alto da fé cristã, pois Deus mostrou que é Deus que age, que ouve, que liberta e caminha com o seu povo para superar tudo o que oprime, que diminui, exclui e surrupia a vida digna e plena que Ele quer para este mundo. Vamos preparar esta festa com mais carinho e responsabilidade? A comunidade cristã, com seus costumes, seus encontros e celebrações, cantos e liturgia pode apontar para a verdadeira luz que a humanidade necessita: Cristo Jesus, aquele que vive, que Ressuscitou!

(Para maior reflexão, leia:
Festas na comunidade cristã. Educação cristã e criatividade. nº 4. Ed. Sinodal.1995
Revista TEAR. Liturgia em revista. Vol.1-nº3 – dez.2000. EST.)


Pa. Anelise L. Abentroth
Horizontina, março de 2008.

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