sexta-feira, 7 de março de 2008

Império do terror




A evolução atual parece confirmar as previsões de muitos especialistas. Dizia-se que o século XXI seria caracterizado pelo confronto entre dois mundos culturais distintos: o mundo ocidental, liderado pelos EUA, e o mundo muçulmano. O que mais contribui para confirmar esta expectativa é que Bush e os seus representantes de governo se afirmam como profundamente religiosos e fazem de sua ideologia política uma ação religiosa, notadamente messiânica. São os “convertidos” fundamentalistas ligados ao Partido Republicano que, segundo dizem, é composto por aproximadamente 40% do povo americano. Bush e os seus comandados acreditam que os EUA receberam de Deus uma missão mundial: dar a liberdade, implantar a democracia e fazer valer a paz em todos os cantos da terra. Com base nisso, se identificam como a nação mais pacífica que existe e que foram chamados para liderar o “mundo do bem” contra as investidas do “mundo do mal”.
Depois do 11 de setembro de 2001, o eixo do mal assumiu uma imagem universal. Apesar de não ter podido provar a conexão entre Saddam Hussein e a Al Qaeda, no imaginário ocidental, se produziu uma conexão muito clara: o eixo do mal é o terrorismo. Assim, os EUA lideram a luta contra o terrorismo e todos os povos são chamados a entrar nesta mesma empreitada. A aliança proposta pelos EUA ilustra muito bem esta forma de imperialismo político arbitrário.
A luta total contra o terrorismo produz uma paranóia coletiva. São suspensas as liberdades constitucionais, justificam-se métodos de tortura, multiplicam-se os controles alfandegários e policiais e se chega ao absurdo de revistar até os sapatos dos passageiros nos aeroportos. As autoridades perdem por completo o senso do ridículo e buscam incutir uma neurose coletiva na mente da população. Acreditam que tornando as pessoas apreensivas (eu diria doidas) as protegerão contra todos os meios e intenções terroristas. Provavelmente ao ver toda a fragilidade psíquica dos cidadãos, os terroristas sentem-se muito mais animados na sua tarefa. Percebem que suas ações conseguem produzir efeitos até mais fortes do que podiam imaginar.
O mundo ocidental revela toda a sua fragilidade apesar de ser dotado de tanta força e poder material. Confirma que existe uma enorme deficiência na formação humana e não permite voltar à normalidade porque os meios de comunicação se encarregam de alimentar cotidianamente uma neurose coletiva a partir de um sistema absurdo.
Enquanto os governantes divertem o povo com a guerra contra o terrorismo, as grandes empresas vão conquistando o seu espaço e o que é pior, conseguem lucrar a partir do pânico que se espalha pelo mundo afora. As grandes corporações já conquistaram o setor bancário, de energia, transportes, químico e ultimamente estão abocanhando o setor de comunicações. A continuar neste ritmo, em poucos anos já não haverá mais nada que seja de procedência nacional ou que possa depender da tecnologia e do empenho de pequenas empresas familiares ou locais.
As eleições dos últimos anos mostraram que a população gostaria de perceber mudanças concretas. Menos desigualdades, mais empregos, menos pobreza, mais justiça, dignidade e paz. Votou-se em candidatos que sintonizavam com o clamor popular. Mas, na prática, parece que houve apenas desilusões. No lugar da mudança, continuidade, no lugar da austeridade, resignação e lamento.
A tão propagada democracia parece revelar nos dias atuais uma estranha dinâmica. Manda quem pode e obedece quem precisa. Nada mais que um jogo. Mudanças apenas até o momento em que estas não se confrontem com as próprias aspirações e regalias. Portanto, uma nova versão da mesma história.
Cabe perguntar de forma direta pelo papel da Igreja e da Escola neste contexto. Percebo que neste quesito, infelizmente, nada ou pouco tem sido feito. Há anos que a cúria continua repetindo o mesmo discurso que a prioridade é a moral tradicional em oposição à cultura contemporânea. A atenção maior tem se concentrado na defesa da fé no sentido de salvaguardar a identidade, as tradições e os dogmas quando questionados por intelectuais ou “progressistas”.
Os bispos, pastores e lideranças eclesiásticas tem se dedicado à administração burocrática de suas comunidades e não conseguem vislumbrar uma participação mais efetiva na sociedade. O resultado é um grande silêncio. Nada se têm a dizer. Os sacerdotes encontram-se, na maioria das vezes, à margem dos debates e procuram defender a sua moral, ainda que para um rebanho cada vez menor e menos fiel. Tempos obscuros de um dilema sem fácil resolução.
Pastor Celso Gabatz

Nenhum comentário: