quarta-feira, 15 de outubro de 2008

O Vazio que Não Pode Ser Preenchido



Jesus Cristo nos diz: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Quem vem a mim terá a vida eterna.

O cuidado com os entes queridos que já partiram para junto de Deus, é algo universal e antropológico. Todos os povos e culturas têm o seu tempo para cuidar dos seus mortos. É algo estritamente humano a dor da perda, a saudade e o luto. Contudo, a partir da nossa confessionalidade Luterana, não podemos cultuar os mortos. A vida continua a pessoa morreu, não voltará por mais que tentamos traze-la de volta. Isto, não quer dizer que necessitamos esquecer, ou abandonar a sepultura. Logicamente que não. Também porque não é possível. Pois a morte sempre nos deixa em crise.
Ela é um choque! A morte sempre nos pega desprevenidos. Mesmo quando ela é certa, nunca se torna esperada e tranqüila. De repente, tudo fica diferente. Aparecem dúvidas, os porquês? O pensamento se torna confuso. Não se sabe o que pensar? O que fazer? Tentamos não acreditar, mas não adianta. É inevitável a morte nos atinge, nos desorienta e nos abala. Revela o quanto somos indefesos e impotentes.
Ela é tão terrível porque age independente de nossa vontade e querer. Leva alguém querido, amado sem a nossa autorização, consentimento, e muitas vezes sem nos despedirmos. Assim, leva um pedaço da gente junto, e por isso, nos sentimos tão mal. Mesmo sabendo que a morte é uma etapa da vida, que todos que nascem morrem, que é um das poucas certezas que temos no transcurso de nossa vida. Ela nos machuca e castiga, deixando marcas e saudades. Seria estranho, se não sofrêssemos, se não sentíssemos saudades, pois isso significaria que nossa vida foi vazia, sem pessoas especiais, importantes e amigas.
Preparados ou não, tendo a companhia de amigos, da comunidade de fé ou não, o nosso viver está sujeito a vida e morte, alegria e tristeza, companhia e solidão, amor e desavenças, acertos e erros, vitórias e derrotas, saúde e doenças. Geralmente nos momentos felizes, alegres vamos tocando a vida do jeito que dá. Tudo está bem. Desta maneira, muitas vezes, achamos que o nosso destino, a nossa vida depende simplesmente de nós, do nosso querer e fazer. A vida está em nossas mãos. Porém, quando as coisas não vão bem, quando somos afligidos por doenças, por crises, percebemos que a nossa vida não está em nossas mãos. E daí o que fazer para não cair no desespero. O que fazer para ter forças para vencer os momentos difíceis? A única coisa que pode nos ajudar é a esperança. Ter fé, ânimo e paciência (ciência da paz) para suportar a crise, a dificuldade e então sair fortificado. Entoar aquela bela canção que diz: Segura na mão de Deus e vai!
Um ótimo exemplo de esperança são os ipês. Que no rigor do inverno perdem todas as folhas e flores parecendo que estão mortos, sem força. Entrementes, eles nos encantam no romper da primavera despontando floridos, antes da brotação das folhas. Seu florescer destaca-se entre a secura das árvores e dos campos. Ter esperança para lidar com as dificuldades é sentir-se abraçado por Deus. Saber que nossa vida não depende de nós, e que quando as nossas forças fraquejarem Deus estenderá suas mão para nos acolher e consolar.
Necessitamos buscar força para tocar a vida em frente, levando as lembranças, os bons momentos das pessoas que partiram, e sobre tudo a esperança de que em Jesus Cristo todos e todas temos um lugar junto a Deus. A vida vem de Deus e volta para Deus. Esta deveria ser a nossa esperança que consola que faz tocar a vida em frente como nos fala a canção de Renato Teixeira:
“Ando de vagar porque já tive pressa e levo esse sorriso, porque já chorei demais. Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe só levo a certeza que muito pouco eu sei, eu nada sei. Sinto que seguir a vida seja simplesmente conhecer a marcha e ir tocando em frente.Como um velho boiadeiro levando a boiada eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou, estrada eu sou. Tomo mundo ama um dia, todo mundo chora, um dia a gente chega no outro vai embora. Cada um de nós compõe a sua própria história, e cada ser em si, carrega o dom de ser capaz, de ser feliz.Conhecer as manhas e as manhãs, o sabor das massas e das maças. É preciso o amor pra poder pulsar. É preciso paz pra poder sorrir, É preciso a chuva para florir.”
Amados e amadas a dor, o luto, a falta de sentido diante da morte é tudo normal, mas a vida continua. E necessitamos apreender a viver superando a dor da morte. Assim, o dia de finados não é um dia de culto aos mortos, mas de lembrarmos da vida. A sepultura é um símbolo, um ponto de referência, para amenizar a perda. Ainda sobrou algo. Mas, o que será que sobrou na sepultura. Logicamente que nada. Ali estão somente os restos mortais. O que sobrou foram as lembranças, os momentos vividos. E estes necessitam ser lembrados.
Acredito que se trabalhamos a saudade, ao invés da sepultura, o finados seria bem mais consolador, para nossas vidas.
Todo o sentido de disfarçar, mascarar, ou eliminar a morte é ilusório. A pessoa não voltará, a nossa vida não voltará a ser a mesma. Mesmo que vamos ao espiritismo, no hinduismo, nas religiões que acreditam fazer contado com os mortos. O certo é que estes esforços apenas nos anestesiam, mas não nos consolam. O espaço vazio continuará... E só pode ser preenchido com a esperança e a paz de Deus que nos espera no reino de vida abundante.

“Amado Deus, ensina-nos a conviver com esta realidade que estraçalha os nossos corações e vidas, que é a morte. Morte de conhecidos, amigos e familiares. Dá-nos a tua esperança, para encontramos consolo e poder continuar andando nos teus caminhos. Que a ressurreição de Jesus possa nos confortar de que todos e todas temos um lugar junto a Deus, e assim um reencontro no teu amor. Amém.”

Olmiro Ribeiro Junior
São Borja


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