quarta-feira, 1 de outubro de 2008


KATHARINA VON BORA

Existem muitos livros, prédicas, sermões, biografias do grande reformador Martim Lutero. Mas uma pessoa muito importante ao lado dele, a sua esposa Käthe, quase sempre fica esquecida. Na época em que vivia, as mulheres eram consideradas inferiores ao homem. Era, talvez, este o motivo pelo qual essa grande mulher era tão pouco mencionada nos muitos livros que existem sobre a obra do reformador.
Quem era KATHARINA?
Katharina era de família nobre. Seus pais eram Hans von Bora e Katharina Haubitz von Bora. Käthe, a mais velha dos quatro irmãos, nasceu em 29 de janeiro de 1499. Quando ela tinha seis anos, faleceu a mãe. Seu pai, não sabendo como criar os quatro filhos, levou Käthe ao Convento Brehna, perto de Bitterfiel. Lá ela teve o privilégio de receber ótima educação. Passaram-se os anos e Käthe não perdia as esperanças de poder deixar o convento e servir a Deus de outra maneira. Porém o pai, entrementes, havia casado novamente, e a madrasta não queria também esta filha em sua casa, e assim foi decidido o destino da menina! Aos 16 anos de idade já se tornou noviça, e logo mais se submeteu aos votos de freira.
SUA NOVA E ÁRDUA TAREFA
A vida de Käthe ao lado do grande teólogo e professor não foi fácil. Ele praticamente não tinha tempo para a família, pois se dedicava cada vez mais à sua missão pela Reforma da Igreja. Os problemas da casa e da família Käthe resolvia com muita eficiência e de tal maneira, que o marido, às vezes, dizia: “O meu senhor Käthe”!
Este espírito de luta e de decisão tinha grande influência na vida do reformador. Nas horas mais difíceis, foi sempre ela que dava novo ânimo ao marido. Isto nos mostra também esta pequena estória que se segue: Martim Lutero sempre tinha dúvidas se o que fazia era mesmo da vontade de Deus. Às vezes, desconsolado e abalado, se trancava no quarto, e desesperadamente orava para que Deus lhe desse um sinal. Certo dia, ele novamente estava desesperado e triste, sozinho em seu quarto. De repente, escutou um leve bater na porta. “Entre”, disse sem levantar a cabeça. Mas que susto levou, quando viu entrando pela porta sua Käthe, toda vestida de preto, com um olhar bem triste. “Mas que aconteceu”, perguntou ele. “Faleceu alguém da família?” “Não”, respondeu ela com voz baixa. “Não é ninguém da família, mas quem faleceu parece ser o próprio Deus, pois senão meu esposo jamais poderia estar tão triste e sem esperanças!” Lutero logo entendeu o sentido destas palavras e, levantando-se todo animado, abraçou sua querida esposa e disse: “Não, ele não morreu, Deus vive”. Cheio de alegria e nova esperança, escreveu em letras bem grandes, sobre sua porta: VIVIT - Ele vive!
E assim Käthe sempre procurava ajudar e acompanhar seu marido em tudo, apesar de seus muitos afazeres na grande casa.

A FAMÍLIA
Deus abençoou o casal Lutero com seis filhos, três meninos e três meninas. Johannes, nascido em 7 de junho de 1526; Elisabeth, em 10 de dezembro de 1527; Magdalene, em 4 de maio de 1529; Martin, em 9 de novembro de 1531; Paul, em 28 de janeiro de 1533 e Margarethe, em 17 de dezembro de 1534. Elisabeth completou apenas oito meses de idade e, mais tarde, faleceu também com 13 anos Magdalene. Com muita fé em Deus a família conseguiu superar as perdas.
Käthe tinha muitas dificuldades em conseguir alimentar sua grande família. Além de seus seis filhos, tinham adotado várias crianças de parentes pobres. Mas em sua mesa não almoçava só sua família, mas também estudantes, professores e teólogos. Eram sempre entre 40 a 50 pessoas! Käthe, porém, tinha uma grande horta onde plantava bastante hortaliças e verduras, além de ter seu gado e víveres. Alguns amigos também traziam comida. Para deleite de seu esposo e para economizar, ela fazia sua própria cerveja. Um episódio interessante ficou registrado: à noite, quando finalmente estavam sós, os dois se sentavam em frente da casa, em dois pilares, cada qual com um caneco de cerveja (ele um litro e ela ½ litro), e então namoravam e se complementavam com longas e profundas conversas. Isto ficou registrado no canto de Lutero: “Das meine Seele erhebt bis in den 3. Himmel”.

A VIUVEZ
O dia mais triste de Käthe foi quando faleceu Lutero, em 18 de fevereiro de 1546. Foi então que começou sua luta pela tutela dos filhos e pelos bens que ele lhe havia deixado em testamento. Mas somente com a intervenção do Príncipe Eleitor, ela conseguiu ficar com a tutela dos filhos. Com a doação de 600 florins pôde comprar a propriedade de Wachsdorf, na entrada de Wittemberg.
Depois da morte do esposo, Katharina tornou-se muito pobre e só conseguia sobreviver graças à doações e ajuda de amigos. Mesmo assim ela não deixou de ajudar os mais pobres na comunidade. Aos poucos também voltou a reunir estudantes em sua casa. Neste meio tempo irrompeu a guerra, e Käthe com seus filhos tiveram que abandonar tudo e se refugiar em Magdeburg. Também o rei da Dinamarca, amigo da Reforma, socorreu a viúva e seus amigos com dinheiro.
Foi numa fuga da guerra que ela se acidentou e ficou gravemente doente. Após três meses de sofrimento, faleceu em 20 de dezembro de 1552, seis anos após seu marido. Seu corpo foi velado no Marienkirche zu Torgau, na mesma Igreja onde seu esposo tantas vezes havia proferido suas prédicas. Käthe Lutero conheceu os altos e baixos da vida, mas teve uma vida ricamente abençoada para todos que a rodeavam. Ela, a primeira esposa de pastor evangélico e co-fundadora da casa pastoral, se tornou inesquecível como a mulher em cujas pegadas a casa pastoral evangélica se tornou, através dos séculos, um lugar de bênçãos!
P. Claudio Luiz De Marchi

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