terça-feira, 20 de maio de 2008

Relacionamentos Interpessoais na Família


Autor: Otto G. Stange
Base:

A família é o fundamento para a comunidade e da sociedade em geral. “A família é a fonte da bênção e da maldição dos povos”, disse Martin Lutero. Quando as coisas não correm bem para a família, então isto influenciará na sociedade e na comunidade. Às vezes esta influencia se estende por gerações inteiras. Onde a família não funciona mais, a sociedade corre o perigo de cortar o seu próprio futuro. Justamente nos dias de hoje a família necessita de amparo para não desmoronar por completo.

Jaime Kemp disse: “Quando se está bem com o cônjuge e com os outros membros da família, torna-se muito mais fácil lidar com as outras áreas da vida”.

Onde se possui o senso de fidelidade em todos os sentidos na família, ali também vai bem na sociedade. Mas estamos longe desse ideal. Um adágio chinês diz: “Governar um país é fácil, mas governar uma família é difícil”. Somente a fidelidade vai manter a família unida. E para isto é necessária a comunicação entre o casal e entre pais e filhos, filhos e pais. Eu tenho que desejar isto. Por si só isto não vai acontecer. Quantas famílias estão desmoronando por falta deste desejo. Cada um só pensa em si mesmo. Não há mais o senso de união. Não há mais o desejo de conversação. Tudo é feito só na base de gritarias. Em outras famílias cada um vai para o seu canto, sem que um saiba o que se passa no íntimo do outro. O diálogo, que poderia facilitar o relacionamento, já não existe há muito tempo.

É por isto que acontecem tantas atrocidades, onde pais matam os filhos, filhos matam os pais e netos matam os avós. Como foi o caso do casal Marísia e Manfred von Richthofen, que foi assassinado a golpes de barra de ferro. O crime foi planejado pela filha do casal, a estudante de Direito Suzane Louise von Richthofen de 19 anos e executado pelo seu namorado. Vocês devem estar lembrados disso, pois muito foi noticiado em outubro de 2002.

As famílias estáveis são cada vez mais raras. Não importa o nível social. Atrás das paredes de uma mansão você encontra os mesmos problemas que num casebre. Na maioria dos casos é uma conseqüência de uma vida sem Cristo, sem Deus. Falta o compromisso de uma vida para com Deus e o Salvador Jesus Cristo. A vida com Deus é primordial para podermos ter um relacionamento agradável na família.

Mas preciso acrescentar uma coisa: isto não garante que meu filho ou minha filha não entre nas drogas ou siga um caminho contrário à educação recebida. Mas é comprovado que a maioria das famílias que seguem uma vida com Jesus Cristo e praticam o diálogo, conseguem maior êxito na condução de sua família.

O problema é que muitos pais são omissos. Não há mais diálogo. Os pais estão acuados entre a autonomia que os filhos querem e o limite que devem dar.

Um exemplo disso temos na bíblia, em 1Sm 2.12-17.22-25
Aqui temos um pai, que não conseguiu estabelecer limites para os filhos. Apesar de serem filhos de um sacerdote e eles mesmos serem ajudantes do sacerdócio, fizeram tudo o que desagradava ao Senhor:

- Eram ímpios (incrédulos) e não se importavam com o Senhor (v.12)

- Não cumpriam os deveres de sacerdotes (v.13)

- Serviam-se da carne que deveria ser consagrada a Deus (v.14-16)

- Tratavam com desprezo a oferta do Senhor (v.17)

- Deitavam-se com mulheres na Tenda do Encontro (v.22)

O prazer deles era comida e sexo. E isto ainda no lugar sagrado de Deus. Não foi à toa que o povo ficava falando dos filhos de Eli. Um pai fraco que simplesmente não soube estabelecer limites aos seus filhos. Sua exortação se limitou em dizer-lhes que “não era bom o que estavam fazendo e que estavam mal falados entre o povo”. (V.24). E os filhos? Desprezaram a repreensão do pai.

Assim, esta família prejudicou até a honra de Deus, de maneira que os incrédulos começaram a fazer troça, se divertirem sobre Deus e seu povo.

É uma trágica situação que se repete nos dias de hoje nos relacionamentos familiares. O abismo entre pais e filhos se amplia cada vez mais. E o que temos hoje, é uma família que vive em vários mundos diferentes, cada vez mais independentes entre si. Uma evidência clara desse caos familiar é o número assustador de adolescentes que crescem em uma família de pais separados, onde normalmente um dos pais, ou em alguns casos os dois, são ausentes de sua vida.

Ainda esta semana uma avó ligou, pedindo que aconselhássemos sua neta adolescente de 16 anos que estava numa fase de revolta. Os pais haviam se separado no começo do ano, e agora a mãe deixou a casa de uma hora pra outra, em busca de aventuras com outro homem, sem sequer deixar endereço. É claro que esta menina estava sentindo o mundo desabar sobre sua cabeça.

Pior é, quando os pais ainda moram sob o mesmo teto com os filhos, mas estão ausentes da vida dos filhos. Cada um segue o seu caminho, cada um procura seu próprio canto. A mãe nos seus afazeres no lar (trabalha fora), o pai acomodado diante da TV (não quer ser incomodado) e o filho mergulhado no seu quarto curtindo uma música ou navegando na internet. Quando não está nas ruas com seus amigos, para fugir a situação constrangedora em casa.

Muitas vezes ouço que nós estamos atualmente enfrentando um abismo de geração, mas creio que se trata mais de um abismo de coração.

Não encontramos mais o caminho em direção ao coração do filho ou filha, em direção ao coração do pai e da mãe. Isto significa que teremos que ser autênticos. Os pais não podem tentar ser pais ideais e nem corresponder à imagem que o filho quer. Temos que admitir os nossos erros, nossos defeitos, dificuldades e limites. A comunicação só ocorre quando os dois lados falam e os dois lados ouvem com atenção. Não adiante tentar IMPOR sua opinião e não ter tempo para o diálogo quer seja com o cônjuge quer seja com os filhos. Encontramos muitos pais que fazem tudo pelos seus filhos. Não deixam faltar nada mesmo. Buscam supri-los emocionalmente com bens de consumo.

Um pai presenteia o filho nos seus 18 anos com um carro O km.

O filho joga a chave em cima do bolo e diz:

“Eu não quero carro, eu quero você, quero o seu amor...”



Conheço os pais, cujo filho está cursando o último ano na faculdade. Este filho recebeu tudo de mão beijada. Nunca conseguiram dizer não quando veio com seus pedidos. Saía com o carro da mãe e voltava altas horas da madrugada. Em dois anos teve quatro acidentes. Aos 20 anos começou a perder-se no alcoolismo. Encontrei-o várias vezes embriagado e uma vez deitado no seu próprio vômito. Recentemente a mãe ligou, e chorando ao telefone disse: “Temo que vamos perder nosso filho. Ele está envolvido no craque”.

Mas como? O que aconteceu? Os pais falharam em alguma coisa? Conhecendo a família, tenho que admitir que aqui realmente houve falta de diálogo. Quando se “conversava” sobre os problemas do filho, tudo era feito aos gritos. O tom de voz de a expressão do rosto do pai não ajudavam em nada, pelo contrário, despertavam uma revolta no íntimo do filho.



A bíblia dá um bom conselho para todos nós: A resposta calma desvia a fúria (acalma os nervos), mas a palavra ríspida desperta a ira (quem responde com raiva provoca brigas e confusão)”. Pr 15.1. “Quem é cuidadoso no que fala evita muito sofrimento”. Pr 21.23

O que ensinamos aos nossos filhos marca seu caráter e determina como eles se portam para conosco.

“Um casal reclamou que o filho não queria ir à igreja, mas a um show de rock. Os pais sempre tinham o hábito de faltar aos cultos por motivos sociais: festas, concertos, lançamento de filmes em salas especiais (eram da alta sociedade).

“Rock, que coisa vulgar!”, dizia a mãe chocada. “Com quem ele aprendeu isto?”. Aprendeu com os pais. E provavelmente dizia: “Ópera, que coisa quadrada!”. Os pais ensinaram que a igreja não era relevante.

Há pais que falam mal dos irmãos na fé, criticam a administração da igreja, “descem a lenha” no pastor, no missionário, ridicularizam o solista ou o quarteto ou o coral, desacreditando todo o sistema eclesiástico. Depois se admiram porque os filhos nada querem com o evangelho”.



Para a preservação da família, é necessário o resgate de sua fundamentação religiosa e firmar-se em Cristo.

Gostaria de propor algumas dicas que podem contribuir para aprimorar sua comunicação na sua família. Isto pode ser um auxilio para guarda-los de caminhos tortos:


Convivência
Pais que valorizam a convivência tem maiores chances em ver seus filhos imunizados contra as drogas. Convivência significa participar da vida dos filhos. Isso inclui momentos de lazer, como passeios, competições esportivas, ir pescar.

Lembro-me quando nosso filho Werner, aos oito anos de idade, pescou seu primeiro peixe. Isto lhe deu o gostinho do prazer da pescar. Alguns dias mais tarde veio pedir: “Pai, vamos pescar?”Eu disse que não poderia, pois estava me preparando para o sermão do culto. Um semana mais tarde o mesmo pedido: “Pai, vamos pescar?” Novamente eu neguei por falta de tempo. E ele, saindo do escritório lamentando: “Ai, ai, ai, mas você nunca tem tempo”. Ainda hoje ouço esta acusação em meus ouvidos e como lamento não ter atendido ao seu desejo. Hoje não tenho mais esta oportunidade, pois aos 17 anos Deus o chamou para a eternidade. Aproveitem as oportunidade que vocês ainda têm. Acampem num fim de semana, façam jogos de mesa, comam uma pitza com a família numa pitzaria aconchegante. Isto não deve ser visto como uma despesa desnecessária ou um gasto supérfluo A convivência reforça as relações familiares e abre perspectivas para um bom diálogo.



Faça do seu lar um lugar atrativo e aconchegante
É importante que o ambiente familiar seja atrativo e aconchegante. “Pertencer a uma família”, esse deve ser o sentimento que os filhos devem ter para que sejam menos vulneráveis às influências negativas.



Tenha um bom diálogo
Famílias onde o diálogo é valorizado, onde a conversa informal sobre qualquer tema é uma rotina na relação pais e filhos, têm muito mais chance de ver os filhos longe dos caminhos tortos.



Dê boas informações
Pais que conversam com os filhos sobre drogas, que falam de maneira amiga e sincera sobre os efeitos e riscos do uso de drogas, estão dando grandes passos para a vitória nessa área.



Pratique o afeto
Abraços, beijos, palavras de elogio e incentivo nunca são demais numa relação familiar. Essas atitudes são depósitos importantes que estamos efetuando na Conta Bancária Emocional dos nossos filhos. Todo filho precisa de, ao menos cinco abraços por dia. Aproveitem o tempo enquanto eles se deixam abraçar e beijar. Chegará o dia em que eles acharão isto cafona e não querem saber da ternura paterna ou materna.



Nossa filha caçula, que na adolescência teve um período de rebeldia e revolta contra nós, mas que foi transformada pela graça de Deus. Aos 19 anos estava estudando fora de casa. Ao estar em casa nas férias, numa noite chamou pela mãe e pediu: “Mãe, cante aquela canção de ninar que você cantava quando eu era pequena e me abençoe”.

Não esqueçam, queridos pais:

Até um adolescente ou jovem aprecia e necessita desta ternura, mesmo que tente desmentir esta necessidade e repelir seu afeto através de protestos e atitudes agressivas. Mas atenção: Não procure faze-lo diante de seus amigos e amigas, para que não se torne motivo de gozação.



Faça os filhos participarem de decisões
Pais que valorizam a participação dos filhos nas decisões estão injetando, inserindo importantes antídotos contra as drogas. Atitude como essa faz com que os filhos sintam que são valorizados em suas opiniões e pontos de vista. Principalmente na adolescência, os filhos não devem ser mais tratados como criancinhas. Existem pais que ainda querem ter o comando sobre os filhos, mesmo após terem casado e formado seu próprio lar. Aprenda a ouvir seu filho face a face, olhos nos olhos. Se o filho se sente compreendido, isto irá ajuda-lo. Isto não significa que ele não respeite uma decisão dos pais. É bom procurar o diálogo em decisões importantes.



Estabeleça limites
Stephen R. Covey afirma: “Ser pai/mãe não significa ser popular e ceder aos caprichos e vontades dos filhos’. Filhos criados com limites são filhos felizes e realizados”. E estes limites terão que ser estabelecidos desde pequenos. Um bom material para se aprofundar neste tema é o livro: LIMITES” – Quando dizer SIM; quando dizer NÃO. Autores: Dr. Henry Cloud e Dr. John Townsend, da Editora Vida.



Seja íntimo de seu filho(a)

Desenvolver um relacionamento de proximidade com os filhos nem sempre é fácil, pois muitos de nós não vivemos tal experiência com nossos próprios pais. Muitas vezes não sabemos como ser íntimos. Ficamos constrangidos, desajeitados e parece que procuramos forçar uma situação.

A intimidade significa que seu filho representa muito para você. É a oportunidade de compartilhar fatos e sentimentos. Pai, seu filho sonha em ter um relacionamento deste tipo com você.

Seja íntimo de Deus!
Não é possível construir um relacionamento saudável na família, se faltar o relacionamento íntimo e consagrado ao Senhor Jesus Cristo. Se pais e filhos não buscarem a comunhão íntima através da oração, todo o nosso empenho pode cair água abaixo. Nós não conseguimos construir um muro de proteção ao redor de nossos filhos, mas a palavra de Deus nos assegura que “o anjo do Senhor se acampa ao redor daqueles que o temem e os livra”. Sl 34.7. Deus se mantém fiel às suas promessas. Ele pode dar sabedoria, quando nós não sabemos mais adiante. Procure viver na casa do Senhor, contemplando a sua bondade e buscando a sua orientação. Sl 27.4.

Temos sido falhos como pais, como filhos? COM CERTEZA QUE SIM! E certamente não podemos mais reverter algumas coisas. Mas mesmo assim, queremos nos colocar arrependidos diante do Senhor e pedir-lhe perdão. Isto nos dará também condições de nos dirigirmos ao nosso cônjuge, aos nossos filhos, aos nossos pais e pedir perdão. Que delícia de vida, quando há uma restauração. É uma excelente oportunidade para nos abraçarmos, talvez chorando juntos e orarmos, agradecendo a Deus um pelo outro e pedindo que tudo tenha se revertido para honra e glória do Senhor Jesus Cristo. Onde há perdão, um novo recomeço é possível, e podemos tocar uma vida mais feliz. Deus quer isto para você! Tenha certeza disso.



Otto G. Stange
Missionário da MEUC em Pomerode

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