Mt 2.1-15
Festejamos o Natal, pois nesta data Deus visitou o seu povo. Foi até mais que uma visita, ele se tornou povo, se tornou gente na forma de um palestino sem terra, sem teto, marginalizado e empobrecido para chamar a atenção das pessoas e de toda a humanidade que os caminhos de Deus não são os nossos caminhos, nem os seus pensamentos os nossos pensamentos (Is 55.8). Isto sempre é difícil para nós entendermos, pois sempre queremos que Deus pense como nós (e seja uma extensão de nós e de nossos desejos egoístas em ficar ricos a qualquer custo, a tal ponto que os corruptos até rezam sobre o dinheiro corrupto pedindo a benção de Deus sobre ele) e que caminhe as mesmas estradas que nós.
Porém, Deus caminha por outros caminhos, exatamente para chamar a nossa atenção sobre os nossos caminhos que normalmente não são os caminhos de Deus. A história do Natal é exatamente isto: ela mostra que Deus trilha outros caminhos que os nossos. Esta postura de Deus nos quer chamar a atenção para a realidade na qual vivemos que não é como Deus a quer. Assim, o Natal é anúncio e denúncia.
O Natal anuncia que Deus armou tenda no meio do povo (Jo 1.14), se fez pessoa numa família camponesa empobrecida que morava à margem do centro da sociedade, que era Jerusalém e o Templo. Jesus não nasceu na capital e nem no Templo, mas longe dele. Isto não é normal, conforme o nosso pensar, por isso os magos, que não eram reis e nem eram três, foram procurar o Messias no palácio. Aí já vem a denúncia: Deus não se encontra nos palácios em meio aos poderosos e ricos. Deus se encontra na margem, no meio dos pobres, no meio dos camponeses. Deus, no AT, sempre é visto como um Deus de camponeses escravos e sem terra em oposição aos palácios do Faraó e dos reis de Israel.
O Natal também denuncia que os do palácio tem medo do Projeto de Deus que se concretiza a partir dos que trabalham com fadiga e com as próprias mãos (I Co 4.12), são fracos e sem poder (II Co 12.10). O poder de Deus parte da fraqueza e dos fracos, por isso Jesus nasce numa família camponesa sem terra empobrecida da periferia e que não foi acolhida nem para ter dignamente uma criança. O Natal mostra a rejeição de Deus por parte do povo e dos poderosos. Mas, mostra também, que quem acolhe Deus são os fracos e marginalizados: pastores e magos, que como estrangeiros não tinham, segundo a teologia do Templo, nem lugar e nem vez na salvação. Assim os desprezados pastores e estrangeiros são os que acolhem o Projeto de Deus, materializado no menino de Belém.
A reação dos pobres e excluídos é aceitar com alegria a notícia do nascimento do Messias que os libertará de todas as opressões a que estão sujeitos, já agora. A reação dos poderosos é a de sempre: semeiam a morte e a dor para mostrar que o seu projeto é outro e que seu caminho e pensamento é outro. O Natal nos convida a nos despojarmos dos caminhos e pensamentos dos poderosos e opressores, dos Herodes e Faraós da vida, e acolhermos o caminho e o pensamento de Deus que é a vida simbolizada por uma criança. O Natal é a vitória da vida em meio aos sinais de morte espalhados pelo nosso mundo afora. O Natal mostra que apesar dos muitos sinais de morte a vida é insistente e intransigentemente vitoriosa; a vida sempre vencerá a morte. É o que nos mostram a cruz e a ressurreição de Jesus na Páscoa.
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