Irmãs e irmãos em Cristo!
Inspirado e movido pelo Espírito de Deus, o poeta cantou assim:
Vem, Senhor, ouvir o clamor por tantas crianças do mundo.
Vem, Senhor, sentir nossa dor que toca a gente tão fundo.
Junto conosco vem dar atenção.
Kyrie eleison, escuta esta oração!*
(Roberto Baptista, Pastor da IECLB)
O autor orou esta oração há muito tempo atrás. Razões para tal sempre existiram. Basta olhar ao nosso redor, perto e longe. Quem, porém, diria que esse texto tornar-se-ia tão atual? Não parece que foi escrito na semana passada, logo após o massacre das crianças na escola do Rio de Janeiro?
Neste tempo da Quaresma, somos, novamente, desafiados a aprender do sacrifício de Cristo. Os textos bíblicos previstos no calendário litúrgico dão destaque ao caminho que levou Jesus à cruz. Ele, pacientemente, a enfrentou e carregou para que ninguém de nós tivesse que sofrer ou praticar tamanha crueldade como ele sofreu. Todavia, infelizmente, nesse sentido, o sacrifício de Jesus parece não ter sido suficiente, e nós convivemos – diariamente – com a violência absurda, cruel e deplorável que ceifa vidas; tantas vidas, e tão pouco vividas. No triste episódio do Realengo, crianças atualizaram, no âmago de sua dor e sofrimento, a paixão de Cristo.
Ainda que a morte se manifeste arrasadora entre nós, o amor de Deus é mais forte que a morte e, na morte vicária de Cristo, Ele está presente junto a todas as pessoas que experimentam situações de morte e luto. Além da solidariedade de toda a sociedade brasileira, cabe-nos como Igreja, movidos e movidas pela fé cristã, anunciar que, em Cristo, a morte já foi derrotada. Sua cruz é o ponto mais baixo de toda história da humanidade para que ninguém mais precise cair mais baixo que ela, sem ser por Ele acolhido.
Por essa razão, nós – teimosamente – confiamos que a semente da paz de Cristo pode florescer mais e mais entre nós, abrangendo toda a Criação de Deus, com esperança e compromisso. A violência e as mortes cotidianas – bem como todo sofrimento causado pelos danos das enxurradas, vendavais, tsunamis – não nos derrotam, ainda que nos abatam. Cremos em Jesus, crucificado e ressurreto, como, muito propriamente, o Evangelho da semana anuncia: "Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim ainda que morra, viverá" (Jo 11.25).
Unindo nossas vozes ao lamento das famílias das crianças assassinadas e traumatizadas nessa ação deplorável no Rio de Janeiro, clamemos ao Senhor: Vem, Senhor, sentir nossa dor que toca a gente tão fundo! Ao mesmo tempo, olhemos para o futuro com esperança e busquemos, cada vez mais, formas de convivência que promovam o cuidado com a integridade da criação, o acolhimento entre pessoas, que ensinem a rever atitudes, que levem ao arrependimento.
Fraternalmente,
Dr. Nestor Paulo Friedrich
Pastor Presidente