Abismos Entre Pais e Filhos
Por força de minha vocação e vivência, tenho observado um fato que está se tornando cada vez mais corriqueiro: as relações entre pais e filhos estão sendo minadas por ressentimentos arraigados que teimam em sobreviver e dos quais, muitas vezes os próprios envolvidos parecem não querer mais se afastar. Mudanças no mundo estão ocorrendo de maneira muito rápida, soterrando velhos valores e princípios, criando uma espécie de abismo entre as duas gerações. Tal qual gotas de chuva que, embora pequenas, vão gradativamente causando erosão e acabam invariavelmente ocasionando desabamentos, as contendas pessoais que ocorrem no dia-a-dia, terminam por solapar as relações entre pais e filhos, por mais sólidas que possam ter sido. Uma série de pequenas agressões e acusações vão se acumulando até o momento em que não podem mais ser contidas. Pelo excesso das águas da discórdia, diques são rompidos e sentimentos ruins brotam aos turbilhões, muitas vezes acarretando rupturas irreversíveis. Daí então, em virtude de acontecimentos, eles ou elas acabamperdendo muito tempo se odiando e realimentando esses velhos ressentimentos, fato que os conduz a turvarem suas almas, impedindo qualquer possibilidade de que a vida siga seu fluxo normal, sem as naturais barreiras criadas por velhas e ultrapassadas pequenas questões. Ao invés do perdão, a acusação; ao invés do diálogo, palavras gritadas e cheias de ira. Ninguém quer perder terreno no campo da incompreensão e da intolerância. Não há chances a dar, o negócio é perpetuar o conflito. Parece que existem pessoas que longe do litígio, não se sentem bem. Alimentam-se dele e dele retiram todo o sentido para suas existências. È hora de parar e reavaliar posições. As metamorfoses, principalmente no campo da moral, da ética e dos costumes, estão ocorrendo com uma velocidade vertiginosa e muitas vezes as pessoas estão tendo dificuldades em incorporá-las e aceita-las rapidamente. Não estão tendo tempo de readaptarem seus princípios e valores. Filosofias que regeram as pessoas durante várias gerações não são fáceis de serem mudadas. É necessário serenidade para os devidos ajustes aos novos tempos, até porque, o que era novo ontem, amanhã já será velho e desgastado.Não quero avaliar se tais mudanças são boas ou ruins. Sinto porém, que necessário se faz que as pessoas envolvidas descarreguem e sepultem antigas divergências, refaçam suas concepções e procurem um ponto de equilíbrio entre as duas posições, criando uma ponte de via dupla entre os dois lados do abismo. Somente assim, norteados pelo princípio da transigência aliado a um diálogo constante entre as visões antagônicas, poderemos lançar um raio de luz sobre os conflitos cada vez mais acirrados que vejo ocorrerem entre pais e filhos.