Jesus começou então a ensinar aos discípulos: "É preciso que o Filho do Homem sofra muito, seja rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos doutores da lei; que seja morto e depois de três dias ressuscite." Jesus falava abertamente sobre o assunto. Mas Pedro chamou-o à parte e começou a censurá-lo por dizer aquilo. (Mc 8.31-32)
Prezados leitores e leitoras, o texto que lemos acima nos traz um momento em que Jesus fala aos seus discípulos sobre o que haveria de acontecer com ele. Fala sobre sua paixão e morte de cruz que se aproximava. Revela aos seus discípulos, amigos próximos que a caminhada ficaria difícil.
Porém, quando ele fala isso, um dos discípulos, Pedro, o repreende, ou seja, o questiona quanto ao que ele está dizendo. Se nós olhamos para o que havia acontecido nos textos que aparecem antes deste no evangelho, podemos perceber que estava tudo correndo muito bem para Jesus e seus discípulos, pois Jesus havia feito vários milagres, muitas pessoas o seguiam, Jesus tinha dado um “chega pra lá” nos fariseus que ficaram questionando sua atuação, enfim, estava tudo indo muito bem. E, de repente, Jesus vem com esse papo de que vai ser morto.
Pedro achou isso o cúmulo. Que história é essa? Mas como? Está tudo dando tão certo. No entanto, Jesus insiste e o repreende, inclusive chama Pedro de Satanás, por não entender as coisas de Deus.
Após falar sobre o seu caminho, sobre como ele ia sofrer e ser morto, Jesus chama a multidão e os discípulos e lhes anuncia que também quem quer segui-lo precisa estar preparado para momentos difíceis. São centrais, nesse sentido, as palavras do v. 35: se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me.
Talvez seja o nosso desejo que tudo na vida fosse “às mil maravilhas”. Uma vida sem altos e baixos, calma, tranquila. Uma rotina segura, sem imprevistos. Quem não deseja algo assim para si?
E realmente, quando temos momentos assim, se alguém vem para nós falar de morte, cruz e dificuldade, quem sabe, tenhamos uma reação bem parecida com a do Pedro: “Mas que papo é esse? Está tudo tão bom, agora tu vens com história de dificuldade. Isso é bobagem”.
Quem vive no mundo da realidade, sabe que há dias bons, dias nem tão bons e dias ruins. Às vezes, a nossa vida passa por fases que parecem intermináveis. Quando isso acontece, não poucas vezes aparecem aquelas propostas sedutoras tipo: dez maneiras para ser feliz; um copo de água para a vida renovada, etc. Para estas propostas, cabe a resposta de Jesus: “arreda-te Satanás, pois não compreendes as coisas de Deus”.
Como filhos e filhas de Deus, em nenhum momento nos foi prometido que não teríamos problema em nossa vida. Tomemos por exemplo a caminhada de Jesus. Ele passou por tentação no deserto, passou fome, teve sede, foi maltratado, humilhado e crucificado.
Ou, ainda, lembremos do Apóstolo Paulo que foi maltratado, açoitado, foi para cadeia. Bem, então, significa que temos que buscar o sofrimento? Não! Este seria o outro extremo. O próprio apóstolo Paulo não fica calado diante dos sofrimentos que passa (At 22.25-26).
Não se trata de buscar o sofrimento, tampouco achar que nossa vida não terá nenhum tipo de tristeza. Mas sim, ter a certeza de que aonde quer que estejamos, alegres ou tristes, Deus está conosco. O negar-se a si mesmo, tomar sua cruz e seguir a Jesus significa que ele está conosco todos os dias e nos ajuda com nossos fardos e também quer se alegrar conosco quando estamos felizes.
Seguir a Cristo implica em ter que carregar uma cruz. Porém, não se trata de carregá-la sozinho, mas sim, tendo por companheiro de caminhada uma comunidade e o próprio Cristo, conforme Lc 24. Sim, como cristãos, sabemos que ele está presente conosco, seja na alegria do nascimento de uma nova vida, seja na tristeza da despedida. Assim, entregamos a Deus as nossas dificuldades e ele, certamente nos ampara na caminhada. Pois, o seu jugo é suave e o seu fardo é leve. Fique com Deus.
Autor: Ministro Candidato ao Ministério Pastoral Gleidson Ademir Fritsche, Giruá/RS Fonte Sinodo Planalto